Cresce em 36% as Mortes de Pessoas Negras por Acidentes em Motocicletas

Pesquisa aponta para uma possível relação entre o aumento da mortalidade de motociclistas negros e a plataformização do trabalho

O Boletim Çarê-IEPS n. 2/2023, Saúde da População Negra: Mortalidade e Acidentes de Motocicletas, traz informações sobre a saúde da população negra, centradas na evolução do número de acidentes de motocicletas com recorte racial.

Até o ano de 2015, os registros do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) demonstraram que as taxas de mortalidade de pessoas negras e brancas seguiam relativamente paralelas no Brasil. Entretanto, com a chegada das plataformas digitais e o significativo aumento de entregadores(as), esses números sofreram acentuadas modificações.

A partir de 2016, o número total de acidentes aumentou progressivamente. Quando os dados são analisados a partir de um recorte racial, o aumento da mortalidade entre a população negra foi consideravelmente maior: em 2016, por exemplo, foram registradas 48 mortes de pessoas brancas a cada 100 mil habitantes, aumentando para 55 por 100 mil, em 2021; já em relação às pessoas negras, em 2016, foram registradas 75 mortes em acidentes por 100 mil habitantes, subindo para 102 pessoas por 100 mil habitantes, em 2021.

As taxas de internação, de ocupação em UTI, dentre outros tipos de consequências e acometimentos também tiveram elevações consideravelmente maiores para a população negra em comparação à branca. Aqui, há indícios de um nexo racial entre o aumento de entregadores por aplicativo (majoritariamente negros) e a proliferação de acidentes com a população negra em anos recentes.